… E O VENTO LEVOU


Há sete décadas começavam as filmagens do mais bem sucedido dos filmes feito pelo cinema, “… E o Vento Levou(Gone With The Wind), monumental obra de um dos mais célebres produtores da época de ouro de Hollywood, David O. Selznick, o fabricante de sonhos. De um esplendor mítico, trazendo uma beleza fotográfica avançada para a época, uma trilha sonora que se tornou parte dos clássicos do cinema, um elenco carismático e interpretações inesquecíveis; “… E o Vento Levou” é o filme que mais tempo demorou a ser exibido na televisão, e um dos poucos que ainda hoje obtém lucro ao ser exibido.
Baseado no romance homônimo da escritora Margaret Mitchell, escrito entre 1926 e 1929, o filme traz a história da saga da voluntariosa Scarlett O’Hara (Vivien Leigh), filha de um rico fazendeiro do sul dos Estados Unidos. Mimada e atrevida, Scarlett vive na fazenda do pai, a sonhar com o amor de Ashley Wilkes (Leslie Howard), que se casa com a doce Melanie Hamilton (Olivia de Havilland). É através desse amor platônico que ela encontra forças para enfrentar uma guerra civil, que leva a família à ruína. Por dez anos Scarlett O’Hara segue a sua paixão, sobrevive à guerra, mente, trai, casa-se três vezes para fugir à miséria. Na trajetória, envolve-se com o cínico Rhett Buttler, homem audaz, único que lhe conhece a verdadeira essência. É nas nuances do casal Scarlett e Buttler que se constrói um dos mais belos romances do cinema, numa arrebatadora história que prende gerações, sem nunca perder a grandiosidade de épico, construindo o maior filme feito pelo cinema americano.
Vivien Leigh vive uma inesquecível Scarlett O’Hara, a força que traz ao falar com os olhos, dá a intensidade perfeita à personagem. Mais de 1400 atrizes foram entrevistadas para viver o papel e cerca de 400 chegaram a fazer a leitura do roteiro. A procura pela atriz que daria rosto e corpo a Scarlett O’Hara ainda não tinha chegado ao fim, e as filmagens foram iniciadas. Sem saber quem seria a protagonista, a primeira cena do filme foi feita, trazia um grande incêndio em Atlanta, com 113 minutos rodados. Para produzir a cena que se tornaria antológica, foi posto fogo em cenários de filmes antigos da MGM (como os da primeira versão de King Kong). O incêndio foi tão intenso, que vizinhos do estúdio pensaram que ele estava pegando fogo, acionando os bombeiros. Assim, no dia 26 de janeiro de 1939, sob um grande incêndio, iniciava-se a saga daquele que seria considerado o mais grandioso de todos os filmes de Hollywood. 70 anos depois, “… E o Vento Levou” nada perdeu do seu glamour épico, muito menos a sua capacidade de conquistar um público que, mesmo diante das quatro horas da duração do filme, não se deixa cansar, fascinando-se com a sua beleza narrativa.

O Rosto de Scarlett O’Hara

Na procura de um rosto para Scarlett O’Hara, mais de 1400 atrizes foram candidatas à intérprete da heroína de Margaret Mitchelll. No meio da intensa disputa pelo papel, Bette Davis deu-se ao luxo de recusá-lo, por não querer contracenar com Errol Flynn, ator que acabou não fazendo parte do elenco. Katharine Hepburn fez de tudo para ganhar o papel, mas David O. Selznick teria comentado ironicamente, que não conseguia ver um homem correndo atrás dela por dez anos. Mesmo achando que a atriz não servia para o papel, Selznick estava inclinado aceitá-la, quando surgiu pelas mãos de Laurence Olivier, a atriz britânica Vivien Leigh, sua mulher na época. Ao fazer o teste, Vivien Leigh conquistou o tão cobiçado papel, apesar de severas críticas contra uma atriz de sotaque britânico a fazer o papel de uma mulher do sul dos Estados Unidos.
No corpo de Vivien Leigh surgiu Scarlett O’Hara, que começa o filme como uma mimada adolescente de 16 anos, filha mais velha de um fazendeiro sulista, plantador de algodão no norte da Georgia. É em Tara, propriedade dos O’Hara, onde Scarlett vive os seus sonhos juvenis. Vive inquieta ao lado dos pais, de duas irmãs e dos fiéis escravos. O pai explica a ela o valor da terra, a força que Tara exerce na vida de quem a lavrou e dela colheu as plantações.
A bela jovem nutre uma paixão platônica por Ashley Wilkes, filho de um fazendeiro vizinho do seu pai. Mas a sua paixão é atravessada pela súbita notícia do casamento do amado com a doce e aristocrática Melanie Hamilton. Durante a festa na casa dos Wilkes, na qual será anunciado o casamento, Scarlett decide declarar-se a Ashley, na esperança de que ele a ame e desista da noiva, para isto espera que todos tirem a sesta, encontrando-se furtivamente com Ashley na biblioteca. Mesmo depois de ouvir a declaração de amor, o rapaz está decidido a casar, diz amá-la como irmã, que ama a noiva Melanie. Irritada, Scarlett joga um vaso sobre Ashley, que a deixa sozinha. É neste momento que um misterioso cavalheiro, Rhett Buttler, visto como um homem de péssima reputação pelas mulheres, revela estar escondido na sala, e que acompanhou a revelação do segredo de Scarlett. Rhett sente-se irremediavelmente atraído por aquela bela e voluntariosa mulher. Começa o jogo de ódio e amor que os irá unir por toda a vida.
No meio de todos os imprevistos, a guerra civil bate às portas dos fazendeiros plantadores de algodão. A festa na casa do Wilkes traz a atmosfera do perigo e da conspiração dos sulistas, que se rebelariam contra o norte.
Menosprezada por Ashley, ironizada por Buttler e falada pelas moças que estão na festa, intempestivamente Scarlett decide, na esperança de atingir o amado e provocar-lhe ciúmes, seduzir Charles Hamilton, irmão de Melanie. Assim, ela rouba o pretende de India Wilkes, irmã de Ashley, aceitando casar-se com ele. Um cavaleiro surge no meio da festa, anunciando que a guerra chegara àquelas bandas. Os homens montam os seus cavalos, com a intenção de alistarem-se e seguirem para o conflito. Melanie e Ashley casam-se no meio do tumultuado momento. O casamento de Scarlett e Charles Hamilton realiza-se minutos antes do jovem partir para a guerra, onde morrerá, deixando uma viúva sem o mínimo apego e que jamais verterá uma lágrima por ele.
As seqüências da jovem e sonhadora Scarlett O’Hara, as cenas da festa na casa dos Wilkes, assim como o grande incêndio da primeira cena gravada, são dirigidas por George Cukor, que se desentenderia com o produtor, afastando-se das filmagens. 4% do filme foi dirigido por Cukor, mas o seu nome não consta nos créditos. Ele ainda dirigiria secretamente as atrizes Vivien Leigh e Olivia de Havilland, que perdidas a certa altura, procurou-o para orientações sobre as suas personagens.

Cenas Épicas de uma Guerra Sangrenta

Com a saída de George Cukor, a realização do filme passou a ser feita por Victor Fleming. Sua direção não agradaria a Vivien Leigh, com quem teve um desgaste, e nem a Olivia de Havilland.
Na precipitação que se casara, Scarlett O’Hara jamais se sentiu como esposa. Um casamento feito alguns minutos antes do marido partir para a guerra ao lado do seu amor, Ashley. Ao voltar da festa, Scarlett percebe que tudo mudara, pois como mulher casada, já não lhe era permitido qualquer diversão. Entediada em Tara, ela consegue convencer a mãe a deixá-la partir para Atlanta, para ajudar a cunhada Melanie. As intenções de Scarlett não são tão nobres, ela aproxima-se da mulher de Ashley com o objetivo de reencontrá-lo, podendo dele ficar mais próxima. Melanie está grávida. Num breve intervalo da guerra, Ashley visita a família em Atlanta, conseguindo a promessa de Scarlett que ela cuidará da mulher até que lhe nasça o filho.
A guerra chega a Atlanta, destruindo a cidade, balas de canhões explodem por todos os lados, inicia-se uma fuga em massa. Quando Scarlett está pronta para a fuga, Melanie entra em trabalho de parto. Presa à promessa que fizera a Ashley, ela fica, mesmo a odiar a cunhada.
A nesta parte do filme, a destruição de Atlanta, que surgem as míticas cenas que dão a dimensão de um grande épico. Desesperada, Scarlett caminha entre milhares de corpos dos sobreviventes da batalha de Gettysburg. Mais de mil figurantes misturam-se com bonecos de cera, dando a dimensão de milhares de mortos e feridos, numa tomada da câmera que acompanha a personagem numa grande viagem aérea, conseguida pela utilização de um guindaste de 43 metros de altura, que rolava por uma rampa de cimento armado. A seqüência pioneira foi desenvolvida por William Cameron Menzies, com efeitos especiais de Jack Cosgrove e Lee Zavits, entre outros.

Amargo Regresso a Tara

Nos tumultuados labirintos da guerra, encontros esporádicos entre Rhett e Scarlett prendem o público, num verdadeiro desafio de amor e ódio que os une. Será o capitão Buttler que retirará Scarlett, Melanie e o filho recém-nascido do meio do furacão das balas de canhões.
Depois de testemunhar os horrores da guerra, Scarlett só quer voltar para Tara, para o recanto da família. Rhett conduz Scarlett para fora de Atlanta, mas no meio do caminho, decide finalmente ir lutar na guerra, ao lado dos confederados. Toma Scarlett nos braços, roubando-lhe um beijo, para que tenha coragem de partir para o conflito, deixando-a sozinha com Melanie no meio da estrada. Scarlett tem medo, grita, chora, amaldiçoa Rhett por deixá-la ali, perdida no meio do caminho.
Enfrentando chuva, frio e os saqueadores das estradas, Scarlett só tem um objetivo, chegar a Tara. Quando finalmente consegue, encontra a fazenda do pai em ruínas, totalmente destruída pela guerra. Não há frutos no pomar, não há suprimentos na dispensa, não há alimentos plantados nos campos, animais nos pastos. Não há mais escravos a servir. Há apenas a miséria da guerra, a fome e a dor da perda. No meio da tragédia, Scarlett descobre que a mãe está morta, o pai ficara perturbado, perdendo a sanidade mental.
Os sonhos de Scarlett O’Hara sucumbem diante da tragédia que se abateu sobre Tara. Faminta, ela sai durante a noite, procurando por algum alimento que tenha restado nas plantações da fazenda. Encontra um único pé de cenoura. Arranca-a da terra e a come. Chora sobre a terra, depois se levanta. É neste momento que uma nova Scarlett nasce, Com o braço erguido, ela jura que jamais voltará a passar fome, que reerguerá Tara, que sobreviverá a todas as diversidades, que tirará daquela terra não só o sustento, como a força que a manterá viva. Uma nova fase da sua saga será contada. Uma nova Scarlett O’Hara surgiu.

Outra Vez Casada, Novamente Viúva

A guerra chega ao fim. Voltam os seus sobreviventes, entre eles Ashley. Scarlett, como filha mais velha dos O’Hara, luta para conseguir reerguer Tara. Para defender a sua terra, fora capaz de tudo, inclusive de matar um saqueador de guerra. É este clima que Ashley encontra ao retornar. Encontra a mulher, Melanie, agradecida a Scarlett por tudo que ela fez. Também Ashley perdera as suas terras. A mulher convence-o a ficar ao lado de Scarlett e ajudá-la a reerguer a fazenda. Com a volta de Ashley, Scarlett declara novamente o seu amor a ele, propondo que fugissem. Mas ele diz que não pode abandonar a mulher e o filho. Scarlett vê na recusa de Ashley apenas uma gratidão a Melanie, não o amor. Pensa que ele pode amá-la, apesar de não o fazer em respeito à mulher. É nesta esperança que mais uma vez, Scarlett conduz a sua vida e a expectativa do amor.
Scarlett descobre que Tara tem uma grande dívida de impostos com a união, que se não saldá-la, perderá as terras. Tenta seduzir Rhett para que lhe empreste o dinheiro, mas ao saber das intenções, o capitão mais uma vez é irônico, mandando-a embora. Scarlett descobre que o noivo da sua irmã Suellen, Frank Kennedy, agora um próspero comerciante, tem o dinheiro que ela precisa. Ela não pensa duas vezes, rouba o noivo à irmã, casando-se com ele e salvando Tara dos impostos.
Scarlett consegue convencer o marido a abrir uma serraria, onde passa a explorar os miseráveis da guerra. Torna-se uma mulher importante e odiada por todos. Para ela trabalham Ashley e o marido. Numa noite, ao voltar para casa, Scarlett é assaltada por dois homens, sendo salva por um antigo escravo do seu pai. Ao reportar os acontecimentos, Ashley e Frank decidem vingar a honra de Scarlett, atacando aqueles que planearam o assalto a ela. Mas Ashley é ferido e Frank morto. Scarlett está viúva novamente.
Sentindo-se culpada pela morte do marido, Scarlett entra em depressão, passando a beber. É assim que Rhett reencontra a mulher pela qual se apaixonara há muitos anos. Encontrando-a frágil, o capitão a beija mais uma vez, propondo-lhe casamento. Scarlett aceita, apesar de confirmar que não o ama. Scarlett casa-se pela terceira vez.

Amor e Ódio Unem Rhett Buttler e Scarlett O’Hara

Uma nova fase de riqueza surge na vida de Scarlett. O marido refaz Tara, deixando-a com o fausto de antes da guerra. Rhett compra uma mansão em Atlanta, para onde se muda com a mulher. O casal tem uma filha, Bonnie Blue Buttler.
Scarlett torna-se uma mulher fútil, fria e distante. Ao nascer a filha, para não perder a beleza do corpo, decide que não mais irá engravidar. Friamente comunica a Rhett que decidiu pela abstinência sexual, pois não deseja ter outro filho dele. Distanciam-se cada vez mais.
Mesmo casada, Scarlett jamais abandonou a ilusão do seu amor por Ashley. Em visita a serraria, ela encontra o amado melancólico. Juntos, eles relembram as suas vidas, antes e depois da guerra. Ashley abraça Scarlett em um tom fraternal, que é visto por sua irmã. Interpretando mal aquele ato, India Wilkes conta a Rhett o que presenciara, despertando-lhe o ciúme, a descrença em um dia conquistar o coração da mulher.
A irmã de Ashley espalha o que viu para todos. O amor de Scarlett por Ashley torna-se público. Todos comentam. Ao saber dos comentários, Scarlett recusa-se a ir ao aniversário de Ashley, temendo que Melanie soubesse dos boatos e a sua reação. Mas Rhett obriga Scarlett a ir à festa e enfrentar a todos. Melanie recebe Scarlett como uma irmã, de braços abertos, escandalizando a todos com a sua atitude.
Ao voltar da festa, Rhett e Scarlett discutem, brigam, num ato de fúria, ele a beija, leva-a a força para o quarto. Na manhã seguinte Scarlett acorda feliz, depois daquela noite de amor, ela começa a ver o marido com outros olhos. Mas Rhett diz à mulher que está pensando no divórcio, que viajará para Londres com a filha Bonnie, quando voltar, será para consolidar o divórcio.
Mas a noite de amor entre os dois deixou as suas conseqüências, quando Rhett volta, sabe que a mulher está grávida. Têm uma nova discussão, que termina com Scarlett a rolar pelas escadas, abortando o filho durante a queda. Melanie ajuda Scarlett a recuperar as forças. Entre ela e Rhett a distância é cada vez maior. Uma outra tragédia abate-se sobre o casal, a filha Bonnie cai de um cavalo, quebra o pescoço e perde a vida. O sentimento de culpa do casal leva-os a uma agressão mútua. Mais uma vez Melanie é chamada para intervir, para confortá-los e ajudá-los a superar a tragédia.
Tempos depois Melanie adoece. No leito de morte, as pessoas tentam impedir que Scarlett a visite, por considerá-la indigna da moribunda. Mas Melanie recebe Scarlett, num ultimo suspiro, pede a ela que cuide de Ashley. Ao ouvir o pedido final de Melanie, Rhett, que estava próximo, vai embora, sem que Scarlett perceba. Melanie morre.
Ashley desespera-se, chora a morte da esposa, afirmando o seu amor por ela. Scarlett percebe que ele jamais teve olhos que não fossem para a mulher. Percebe que o seu amor por Ashley fora uma ilusão juvenil, consumida pelo tempo, que não o ama. Ashley está livre, e ela também, livre daquela ilusão. Percebe que o amor que sente é pelo marido, Rhett. Procura por ele, mas não o encontra. Rhett retirara-se silenciosamente do quarto de morte de Melanie. Scarlett precisa dizer ao marido que o ama. Sai correndo desesperada pelas ruas, cobertas por um denso nevoeiro.
Ao chegar em casa, chama por Rhett, tem pressa em declarar o seu amor por ele. Encontra Rhett a arrumar as malas, pronto para partir. Por dez anos correra atrás daquela mulher, estava cansado de mendigar-lhe o amor. Por mais que ela, aos prantos, declare o seu amor, ele está decidido a deixá-la. Já à porta, Scarlett chora, pergunta a Rhett o que vai ser dela, que ficará sozinha. Ouve-se a frase que se perpetuaria pela história do cinema:
Francamente querida, eu não me importo.”
Rhett parte, desaparece no meio de um denso nevoeiro. Scarlett chora. De repente pára, pensa em como trazer o marido de volta, como resposta repete a frase que sempre dissera durante todo o filme, durante toda a sua vida: “Não quero pensar agora, penso amanhã.”
Mas não consegue deixar de pensar. Já não consegue adiar as decisões e o encontro com a sua consciência, com os seus sentimentos, já não pode deixá-los para o outro dia. Deixa-se cair de joelhos nas escadas, a chorar. De repente ouve as vozes dos homens que passaram por sua vida, de Rhett e do pai. Ambos dizem que é em Tara que retira as suas forças. As vozes tornam-se cada vez mais altas, repetem –se várias vezes, um eco ecoa um nome: Tara… Tara… Tara…
Scarlett ergue-se do desespero que o abandono de Rhett lhe deixara. Percebe que Tara é o ponto de partida da sua vida. É lá que ela encontra a sua força. Será para lá que voltará, e será lá que, se reconquistar Rhett, conseguirá fazê-lo. Ela repete em voz alta:
Tara! … Lar! Irei para o meu lar e pensarei numa forma de tê-lo de volta! Afinal, amanhã é um novo dia!”
Numa última cena, Scarlett aparece debaixo da imensa árvore plantada em Tara, de onde a sua história foi vista, o vento bate sobre as folhas, formando uma grande silhueta daquela que passara por toda a saga da sua história sem jamais se deixar vencer. Num plano com um imenso céu laranja, com as silhuetas negras da árvore e de Scarlett O’Hara, encerra-se o maior de todos os filmes da época de ouro de Hollywood, ou talvez, o maior da sua história.

Os Bastidores das Filmagens

No dia 1 de julho de 1939 foram encerradas as filmagens de “… E o Vento Levou”. No final, o produtor David O. Selznick tinha 28 horas de projeção, com cerca de 60.000 metros de filme.
Diante de tanto material, Selznick trancou-se por vários dias com o montador Hal C. Kern e o seu assistente James Newcom. A montagem foi feita sem que nenhum dos cinco diretores (Victor Fleming, George Cukor, Sam Wood, William Cameron Menzies e Sidney Franklin), fosse consultado. Feita a montagem final, Selznick chamou Vivien Leigh de volta aos sets e filmaram a cena que Scarlett, abandonada por Rhett durante a fuga de Atlanta, esconde-se com a carroça debaixo de uma ponte, durante uma tempestade, enquanto uma tropa de nortistas passava sobre a mesma.
Estava concluído o filme que se tornou símbolo do glamour do cinema na sua época de ouro. Vários foram os que o dirigiram. Primeiro foi George Cukor, responsável por 4% do filme, principalmente pelo início. Victor Fleming substituiu Cukor, dirigindo 45% de “… E o vento Levou”. A sua direção foi contestada pelas atrizes Vivien Leigh e Olivia de Havilland, que passaram a ensaiar em sigilo na casa de Cukor. Diante dos aborrecimentos com as atrizes e da pressão das reclamações de Selznick, Fleming teve um colapso nervoso, sendo substituído por Sam Wood, que assumiu a direção em 1 de maio de 1939, dirigindo 15% do filme. Fleming recuperou-se, quando voltou, Wood continuou na direção, ambos em horários diferentes das filmagens. Também dirigiram “… E o Vento Levou”, William Cameron Menzies e Sidney Franklin. Somente o nome de Fleming foi creditado. Apesar de tantas trocas na direção, o filme, em momento algum, perdeu a coerência, tornado-se um patrimônio do cinema. Graças a uma montagem coesa, estas diferenças de estilos de direção desaparecem ao longo das quatro horas de duração, sem deixar que se torne cansativo.
Os diálogos de “… E o vento Levou” produziram frases célebres e antológicas, disseminadas por todos aqueles que o assistiram. A trilha sonora, composta por Max Steiner, é símbolo de reconhecimento aos ouvidos das mais diferentes gerações que se deixaram seduzir pela saga de Scarlett O’Hara. Finalmente, a fotografia, pioneira na época, traz uma concepção pictórica, traduzida em um fenomenal uso do Technicolor, fazendo do filme um primor técnico que não se desgastou ao longo das décadas.
Nunca uma escolha, diante de centenas de opções, de uma atriz foi tão perfeita quanto à de Vivien Leigh para interpretar Scarlett O’Hara. O olhar de fogo da atriz deu ênfase ao temperamento da personagem, uma mulher mimada, voluntariosa, manipuladora e de uma sedução irresistível. Reza a lenda que a atriz não suportava as cenas de beijos com Clark Gable, culpando um suposto mau hálito do ator. Intrigas a parte, a química dos atores fez do filme uma história apaixonante, mesmo diante de um amor que se distancia cada vez mais das personagens, que quando aumenta de uma das partes, repele a outra, criando um jogo de impossibilidades diante dos sentimentos. A atriz recebeu vinte e cinco mil dólares pela atuação no filme, em contrapartida com os cento e vinte mil dólares recebidos por Clark Gable. Mesmo diante da diferença salarial, Vivien Leigh viveu a mais fascinante das mulheres do cinema, ganhando o Oscar de melhor atriz por esta excepcional atuação.
Além do Oscar de melhor atriz, o filme arrebatou mais nove estatuetas: melhor filme, melhor diretor (Victor Fleming), melhor atriz coadjuvante (Hattie McDaniel), melhor direção de arte, melhor edição, melhor fotografia, melhor roteiro, Oscar honorário para William Cameron Menzies e Oscar técnico para Don Musgrave. Além dos prêmios, recebeu outras cinco indicações, entre elas a de melhor ator (Clark Gable) e melhor atriz coadjuvante (Olívia de Havilland). Hattie McDaniel foi a primeira atriz negra a receber um Oscar, ironicamente ela não pôde comparecer à estréia do filme em Atlanta, justamente por ser negra. “… E o Vento Levou” foi o primeiro filme colorido a receber um Oscar.
À época, a produção de “… E o Vento Levou” custou mais de cinco milhões de dólares, tendo alcançado quatro anos depois do seu lançamento, uma bilheteria de mais de trinta e dois milhões de dólares. Continua a ser o filme que ainda gera lucros em suas exibições pelo mundo.
Outros filmes foram lançados como continuação de “…E o Vento Levou”, mas passaram despercebidos diante da sua mediocridade e ante a grandiosidade do original. Acadêmico, repleto de mensagens de racismo, duração quilométrica, nada disso ofuscou o carisma do filme, a sua beleza épica, tão pouco diminuiu a força telúrica das suas personagens. O filme é o mais pleno retrato de uma Hollywood repleta de glamour, e é principalmente, a face iluminada de um fabricante de sonhos, o genial produtor David O. Selznick.

Ficha Técnica:

… E o Vento Levou

Direção: Victor Fleming
Ano: 1939
País: Estados Unidos
Gênero: Drama
Duração: 241 minutos / cor
Título Original: Gone With The Wind
Roteiro: Sidney Howard, baseado no livro de Margaret Mitchell
Produção: David O. Selznick
Música: Max Steiner
Direção de Fotografia: Ernest Haller e Ray Rennahan
Desenho de Produção: William Cameron Menzies
Direção de Arte: Lyle R. Wheeler
Figurino: Walter Plunkett
Edição: Hal C. Kern
Estúdio: Selznick International Pictures
Distribuição: MGM
Elenco: Clark Gable, Vivien Leigh, Leslie Howard, Olivia de Havilland, Hattie McDaniel, Thomas Mitchell, Barbara O’Neil, Evelyn Keys, Ann Rutherford, George Reeves, Fred Crane, Butterfly McQueen, Victor Jory, Everett Brown, Howard C. Hickman, Alicia Rhett, Rand Brooks, Carrol Nye
Sinopse: Uma reunião social acontece numa grande plantação na Georgia, Tara, cujo dono é Gerald O’Hara (Thomas Mitchell), um imigrante irlandês. Na mansão está Scarlett (Vivien Leigh), sua bela e teimosa filha adolescente. Scarlett ama obsessivamente Ashley (Leslie Howard), o primogênito do patriarca de Twelve Oaks. Ashley está comprometido com Melanie Hamilton (Olívia de Havilland). Scarlett acha a vida em Tara monótona, mas seu pai diz que Tara é uma herança inestimável, pois só a terra é um bem que dura para sempre. Ela revela um inapropriado comportamento nas festas, apesar das objeções de Mammy (Hattie McDowell), sua protetora escrava. Em Twelve Oaks Scarlett é o centro das atenções, em razão dos vários pretendentes que lhe ladeiam. Mais tarde Scarlett ouve os cavalheiros discutindo acaloradamente sobre a guerra eminente que acontecerá entre o norte e o sul, crendo que derrotarão em meses os ianques. Só Rhett Buttler (Clark Gable), um aventureiro que tem o hábito de ser franco, não concorda com estas declarações movidas mais pelo orgulho do que pela lógica. Um jovem, Charles Hamilton (Rand Brooks), sentindo-se insultado, tenta desafiar Rhett para um duelo, mas ele se esquiva. Scarlett procura Ashley, declarando-se a ele. Ashley diz que ama Melanie, entretanto admite que ama Scarlett fraternalmente. Ela fica irritada, esbofeteando-o. Ashley deixa a biblioteca. Ela lança um vaso contra a lareira e descobre que atrás de um sofá estava Rhett. Quando Scarlett lhe diz que não é um cavalheiro, Rhett retruca dizendo que ela não é uma dama. Rhett fica atraído pela beleza de Scarlett. Em Twelve Oaks chega um cavaleiro, para dizer que a guerra começou. Charles vai dizer a Scarlett que a guerra foi declarada, com todos os homens indo se alistar. Enquanto via Ashley se despedir de Melanie, Scarlett ouve Charles lhe pedir em casamento. Movida pela mágoa, ela aceita e diz que quer casar antes que ele parta. Melanie e Ashley casam-se num dia e Scarlett e Charles no outro. O que Scarlett desconhecia é que o futuro lhe reservava dias muito mais amargos, pois durante a Guerra Civil Americana, várias fortunas e famílias seriam destruídas.

2 Responses to … E O VENTO LEVOU

  1. uma gloriosa e explendido filme... disse:

    caros amigos como sou fanatico por este filme gostaria de parabenizar pelo excelente materia sobre o meu filme preferido…abraços fraternos…amanha eu penso nisso…gillbrasil

  2. vanaira nunes disse:

    adoro e o0 vento levou, perdi a conta de quantas vezes eu já assisti.beijos

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